Mostra Cultural Leandro Gomes de Barros



Leandro: o poeta do sertão

Há cem anos morria um dos maiores poetas brasileiros, Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Nascido em Pombal, na Paraíba, e criado em Teixeira - berço dos maiores cantadores do século XIX - fixou-se mais tarde em Recife, onde casou e constituiu família.

Leandro foi um dos poucos poetas, no país, a viverem exclusivamente da sua arte: escrevia, editava, imprimia, divulgava e comercializava suas criações.

Com estas criou seus filhos, beneficiados pelo seu precioso legado. 

A poesia, motivo de sua vida, talvez também tenha sido o motivo de sua morte.

O folheto O Punhal e a Palmatória, que pode ser lido como um libelo veemente contra o coronelismo do sertão nordestino, conduziu-o ao cárcere, o que o teria debilitado física e emocionalmente. Neste poema ele relata o assassinato de um senhor de engenho por um homem por ele surrado. No seu tempo e na sua terra, eram os “coronéis” que faziam “justiça”. Para alguns estudiosos, no entanto, Leandro foi vítima da gripe espanhola.

Conhecia como ninguém o sertão por meio das constantes viagens quando vendia suas obras e, principalmente, recolhia, com ouvidos atentos, os relatos de acontecimentos e histórias pitorescas que traduziria em versos. 

Calcula-se que escreveu mais de mil obras cuja classificação tornou-se objeto de estudo de muitos pesquisadores, como Câmara Cascudo e Sebastião Nunes Batista, mas sem dúvida, são as sátiras sua marca registrada. Ganhou o título de “Príncipe dos poetas” de Carlos Drummond de Andrade, em 1976, e um bom número de trabalhos acadêmicos. 

Muitas vezes ingressamos no universo de Leandro sem nos darmos conta. Nem todos sabem, por exemplo, que os dois primeiros atos do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, foram inspirados nos folhetos de autoria do poeta: Cachorro dos mortos e A história do cavalo que defecava dinheiro.

A Fundação Casa de Rui Barbosa é detentora do maior número de folhetos de Leandro que ainda nos chegaram como doação, pois muito do que produziu perdeu-se ao longo dos anos. São 460 folhetos, boa parte disponíveis no site Cordel: cultura popular em verso e no Repositório Rui Barbosa de Informações Culturais – RUBI.

Embora tenha morrido há um século, Leandro continua entre nós, pois sua poesia continua circulando, especialmente no Nordeste, porque, talvez, ele tenha conseguido como poucos, de forma genial, capturar a alma de um povo engenhoso, espirituoso e criativo. 

Texto de Ana Lígia Medeiros 
Diretora do Centro Memória e Informação (CMI) da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB)

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